Uma abordagem antropológica e histórica da sexualidade
José Aristides da Silva Gamito
Palestra na E. E. Governador Juscelino Kuistchek, dia 11/05/2009
Introdução
A reflexão sobre a sexualidade nos ajuda no autoconhecimento. É preciso entender o funcionamento biológico do nosso corpo e a constituição social dos gêneros. Todas as nossas atitudes envolvem afetividade e sexualidade. O nosso contato com o mundo externo se faz via sentidos e por isso, o canal é afetivo e sexual. Somos capazes de criar símbolos, valores e rituais para as nossas sensações. E é justamente isso que compreendemos no estudo da sexualidade.
Sexualidade na sociedade contemporânea
A atração sexual se tornou para os capitalistas em produto negociável e para os religiosos um tabu. Sempre há um medo e exagero quando se trata da energia sexual. O resultado das repressões foi uma liberação informe, sem norte. A deficiência da educação sexual satisfatória se percebe no dia a dia. A nudez, o vestuário, o tema sexo, a reprodução humana, os órgãos genitais são tratados como tabus. Para um equilíbrio é preciso conhecimento. A nossa “moderna sociedade” ainda não conseguiu ser moderna. Os ideais pregados por ela não se tornaram prática.
Conceituação de Sexualidade
A sexualidade define-se a predisposição humana de sentir e se relacionar com mundo de forma sexuada. Isso envolve as suas preferências, aspirações ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da sua identidade e atividade sexual, num determinado período da sua existência. E não se restringe ao ato sexual, está relacionada com a totalidade do corpo.
Alguns elementos estão vinculados à sexualidade tais com a afetividade e sexo. Pelo menos duas dimensões podem ser percebidas: a comportamental (carinho, sexo) e a psíquica (enquanto atração, valores, sensações). A sexualidade e a afetividade se complementam na relação da pessoa com o mundo. Para que elas sejam bem exercidas, é necessário educação.
A sexualidade liga-se a fatores biológicos, psicológicos e morais. A sua expressão é aprendida e varia de cultura para cultura. Exemplos: poligamia, monogamia. A definição dos papéis masculinos e femininos é uma construção cultural, assim as inter-relações aí estabelecidas.
Relatividade Cultural
Em termos de sexualidade, podemos dividir as culturas em: matriz oriental e matriz ocidental. O ocidental influenciado pelo cristianismo e a sociedade moderna tende a ver a sexualidade como: Casamento monogâmico, relacionamento romântico, liberdades sexuais como a homossexualidade, bissexualidade e a emancipação feminina.
Enquanto, o oriente tem características como: Casamento poligâmico, arranjado, homossexualidade proibida, carícias públicas vetadas e a hegemonia do macho e do pai sobre as relações familiares.
Relatividade Histórica
Na Antiguidade, os gregos e romanos tratavam a sexualidade com bastante liberdade. Eram toleradas a homossexualidade, a pedofilia e a nudez pública. As bacanais e os jogos olímpicos eram espetáculos de nudez e de vigor físico. A arte era marcada pelo nu.
Na Idade Média, o cristianismo predominou e passou a valorizar o espírito. O corpo veio a ser escondido, o prazer sexual condenado, a liberdade sexual considerada perversão. O sexo restringiu-se à reprodução, os sentimentos ditos como leviandade. O nu é totalmente proibido. O mito de Adão e Eva é tomado referência. A mulher se tornou tentação e o sexo um pecado.
Na Modernidade, a valorização do corpo retornou. Os cristãos passam a tolerar as expressões da sexualidade. As ideias do iluminismo/racionalismo, de Darwin, de Freud desencadeiam na revolução sexual dos anos 60. Os românticos do século XVIII influenciaram com a noção contemporânea de amor. Nietzsche proclamou o homem instintivo. Darwin pôs o homem em pé de igualdade com os outros animais. E Freud afirmou ser homem essencial energia sexual. Agora as diferentes posturas caminham lado a lado. E o corpo voltou a ser liberto. A mulher se tornou objeto/produto e o sexo um lazer.
Absolutidade Ética
Biologicamente, o sexo é instintivo e animal. Mas o ser humano como ser cultural através de sua razão foi além do instinto atribuindo sentimentos e valores ao sexo. Mas do que uma construção social, é um elemento garantidor do bem-estar de uma comunidade. Quando há responsabilidade mútua a sexualidade tende a dar um prazer mais durador sem prejuízo de partes envolvidas. Por isso, a formação de casais estáveis.
A expressão da sexualidade varia no espaço e no tempo. Portanto, há uma variedade de opções. Mas antes de qualquer escolha ou julgamento faz-se necessária a educação biológica, psicológica e ética da sexualidade. As culturas são relativas, mas o homem através da razão chegou a um conjunto de valores que devem ser respeitados em todo tempo e espaço.
Conclusão
O princípio fundamental é a consciência judaico-cristã: “Não matarás”. Ou seja todos devem usar sua sexualidade como expressão máxima da vida, do amor, da realização do outro. Buscando o autoconhecimento através do estudo da reprodução humana, da análise da sexualidade e da afetividade e do senso moral. A moral aponta para uma sexualidade aberta à felicidade do outro, acima de tudo direcionada para o amor.
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