terça-feira, 28 de junho de 2011

Teatro:


AS NÚPCIAS DE GENARO E MARIA CHIQUINHA

(Casamento do Jeca)

Texto de José Aristides da Silva Gamito e

Joana Regina Gamito Silva

Personagens: Antônio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado (Pai da noiva); Bananeia Oliveira de Leitão Sossegado (Mãe da noiva), Maria Chiquinha Última Delícia do Casal Sossegado (Noiva), Genaro Colapso Cardíaco da Silva (Noivo), Fredolino Hipertenso da Silva (Pai do noivo), Mijardina Dengue Hemorrágica da Silva (Mãe do noivo), Dom Leão Rolando Pedreira (Bispo), Dr. Marciano Verdinho das Antenas Longas (Delegado).

CENA I

(Música de fundo: “O Xote das Meninas”, Luiz Gonzaga. Maria Chiquinha caminha pela sala. Enquanto isso, Antônio a observa e puxa conversa.)

ANTÔNIO: Minha fia, porque ocê tá meio desassussegada?

MARIA CHIQUINHA: Ah, pói! Eu tô mei xonada...tô quereno namorar? Eu sou grande, né? Eu já uso inté surtião!

ANTÔNIO: Fia!!!! Ocê tem argum pretendente que eu num sei?

MARIA CHIQUINHA: Ah, pói! O Genaro Colapso Cardíaco da Silva tá doido cô’eu. E só fica de rabo zói ni mim! Acho que ele xonadinho comigo.

ANTÔNIO: Fia!!! Isso é nome de gente, sô!

MARIA CHIQUINHA: Quê isso, sô Antônio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado!!! O nome dele é lindo de morrê!

ANTÔNIO: A inducação c’u seu pai, Maria Chiquinha Última Delícia do Casal Sossegado!

MARIA CHIQUINHA: Pói, ele vai vim pedi minha mão pro sinhô!

ANTÔNIO: O que que ele vai fazê c’a sua mão, minina!

MARIA CHIQUINHA: É o modo de dizê! Ele qué eu tudinha!

ANTÔNIO: Vô pensá no caso. Manda ele vim falá com eu! Quero vê se ele é macho memo!

CENA II

(Genaro e Maria Chiquinha conversam no terreiro da casa. Genaro, desconfiado, aos poucos se aproxima de Maria Chiquinha.)

MARIA CHIQUINHA: Ô, Genaro Colapso Cardíaco da Silva, eu já falei c’u meu pói!

GENARO: Mais o que c’ocê falô c’u seu pai?

MARIA CHIQUINHA: C’u meu pai? O c’ocê falô qüeu! Que qué sê meu norvo!

GENARO: Eu te disse isso? Quando, Maria Chiquinha Última Delícia do Casal Sossegado?

MARIA CHIQUINHA: Naquerdia do Arraiá dos Jove que nóis tava bebeno lei’ de onça na barraquinha da Ingreja!

GENARO: Eu num tô me alembrando não, sô!

MARIA CHIQUINHA: Se ocê num tá interessado na minha pessoa, o Manezim Barba de Jesus tá doidim cô’eu tamém!

GENARO: Falano em Manezim! Isturdia aconteceu uma coisa que num gostei.

MARIA CHIQUINHA: O quê, Genaro?

GENARO (Entra a música): O que que você foi fazer no mato, Maria Chiquinha?...”

CENA III

(Enquanto Genaro e Maria Chiquinha se acertam. Antônio chega desconfiado com a intimidade dos dois e começa a esbravejar.)

ANTÔNIO: Uai, ocê tá quereno fazê male a minha fia, sô!

GENARO: Que isso, sô Tonhão! Eu tô só sodano!

ANTÔNIO: Eu num tô gostano dessa prosa, não. Se tá de intimidade assim, vai ter que casá logo. Maria Chiquinha, eu mais sua mãe casou direitim! Ocê vai honrá a famia!

GENARO (Sai correndo): Casá?! Discurpa, Maria Chiquinha, mas eu vô vazá na braquiara. Esse sô Tonhão é meio estrovado!

(Entra a música de Gino e Geno “Não caso não”)

CENA IV

(Antônio chama o delegado para ir prender Genaro e obrigá-lo a se casar com Maria Chiquinha. A questão é decidida na delegacia.)

DR. MARCIANO: Sordado, traz o moço aqui!

ANTÔNIO: Dr. Marciano Verdinho das Antenas Longas, esse troço aí tava namorano com a minha fia e agora num qué casa!

MARIA CHIQUINHA: Namorano não, pai! Nóis tava só ficano. Nóis é moderno! Nóis tem até orkut!

ANTÔNIO: Moderno nada! Isso é sem-vergonhiça!

DR. MARCIANO: Carma, gente! Eu vô resorver a questão. Sô Genaro, perante a lei o sinhô vai ter que casá com Maria Chiquinha.

GENARO: Mas e a minha liberdade, meus direito. Eu tô muito novo pra casá.

DR. MARCIANO: Cala boca, rapaz! E pobre tem direito... Sordado, chega a chumbera na oreia do matuto!

SOLDADO: Obedece o dotô delegado, Genaro! Vai sê mió pr’ocê.

ANTÔNIO: O dotô, intonce, tá acertado. O moço vai ter que casá memo!

MARIA CHIQUINHA: Paizim, eu só caso se o bispo fazê o casamento.

ANTÔNIO: Mas o bispo?!

GENARO: Com o bispo dá...

ANTÔNIO: Mas Dom Leão Rolando Pedreira é um homem muito ocupado. A diocese de Cafundó das Lasqueras é muito grande!

DR. MARCIANO: Não se preocupe eu vô tenta falá c’u bispo. (Discando o telefone): Alô, Incelença! Sua bença...

DOM LEÃO: Alô, dotô delegado! Deus te abençoe, fio!

DR. MARCIANO: O sô Antônio tá precisando casá a fia dele, mas a bichinha só casa com presença do bispo. A gente ta pricisando do sinhô pra essa cerimônia.

DOM LEÃO: O dotô, mas a agenda tá cheia.

DR. MARCIANO: Mas, dom Leão, pensa com carinho. O prefeito vai inté aproveitá a oportunidade pra fazer um agradinho pra diocese.

DOM LEÃO: Sendo assim, meu fio. Sábado de manhã tô aí, marca pra 11 hora.

DR. MARCIANO: Intão tá firmado. Boa noite, sô bispo! Passar bem.

DOM LEÃO: Boa noite. Obrigado, meu fio.

DR. MARCIANO: Tudo arranjado, pessoá. O casório sai sábado.

ANTÔNIO: Ô, que beleza! Muito obrigado, sô delegado!

GENARO: Já que num tem outro jeito.... vamo lá!

MARIA CHIQUINHA: Ô Genaro, eu tô muito feliz.

ANTÔNIO: S’imbora, moçada!

CENA V

(Chegou o dia do casamento. A Igreja toda enfeitada. Pais, padrinhos, noivos. Bispo. O delegado para garantir que o noivo não vai fugir.)

DOM LEÃO: Queiram se aproximar os noivos. (Toca a marcha nupcial).

MARIA CHIQUINHA: Nóis tá aqui, sô bispo.

GENARO: Sua bença, bispo.

DOM LEÃO: Caros noivos, Maria Chiquinha Última Delícia do Casal Sossegado e Genaro Colapso Cardíaco da Silva, estamo diante da comunidade de Cafundó das Lasqueras para unir oceis em sagrado matrimônio.

DR. MARCIANO (Olhando para Genaro): Eu tô aqui pra agarantir que o casório será realizado.

DOM LEÃO: A minha cordiale sodação aos pais do norvo: o senhô Antônio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado e dona Bananeia Oliveira de Leitão Sossegado. E a minha sodação tamém aos pais da norva: senhô Fredolino Hipertenso da Silva e dona Mijardina Dengue Hemorrágica da Silva. Demais familiares e convidados nosso boa noite e vamo começá a cerimônia.

MARIA CHIQUINHA: Sô bispo, casa nóis logo.

DOM LEÃO: Genaro, ocê aceita Maria Chiquinha como sua legítima esposa?

DR. MARCIANO: Oia o que ocê vai responder, moço!

GENARO (Gaguejando): É.... Claaaaro!

DOM LEÃO: Maria Chiquinha, ocê aceita Genaro como seu legítimo esposo?

MARIA CHIQUINHA: Mas é claro, sô bispo! Uma fofura dessa, quem num quer.

GENARO: Assim, Mariazinha, ocê me deixa sem graça!

DOM LEÃO: Eu vos declaro marido e muié, no que Deus uniu que ninguém meta a cuié!

ANTÔNIO: Agora eu quero convidá todo mundo pra gente comemorá o casório numa festança lá no terrero de casa. S’imbora moçada!

SOLDADO: Já que tá tudo resorvido, Genaro, vamo passá ali no buteco do sô Neneco pra gente fazê aquela despedida?

GENARO (Sendo puxado pelo braço por Maria Chiquinha, entra a música): Vou não, quero não, posso não, minha mulher, não deixa não, / Não vou, não quero não. / Vou não, quero não, posso não, minha mulher, não deixa não, / Não vou, não quero não.

SOLDADO: Então, vamo embora pra casa que a QUADRILHA vai começar!

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